domingo, 29 de agosto de 2010


Desta vez, ele chegou e me cobriu de beijos. Entrou em mim. Queixo comprido, lábios finos, olhos tristes e toda falta de vergonha e culpa. Na verdade, sou sacana, pervertida, tenho preguiça e uma sensualidade exposta. Por isso, mesmo sem querer, só faço amor com afeto. Toda vez que eu achava que era o fim ele voltava sem senhas que me permitisse esperar por um atalho. E cavava meu corpo e nessa hora, eu gostava de olhar nos olhos dele. Não evitava. E agora, presa, eu voava num limite improvável cedido num beijo. Sinto umas vontades caladas, quase muda e penso em banalidades. Esmalte vermelho, meu disco de Tom Waits, livros empilhados, seus tramas e ele já esta dentro de mim. Meu silencio, minha agonia e meu riso escandaloso denunciam minha obediência. E não há perguntas por que eu sei que ele me quer. E orgasmo devia ser um ato publico. E o meu virou espetáculo. A mulher contorce o corpo e ele equilibrista, me aperta entre os dedos e eu me derramo. Eu me desmancho quando ele me eleva ao ritmo de prender a respiração, lamber suor e beijar quase morrendo e eu sempre mudando minha rota, virando rotina pra obedecer às ordens do meu amor. E tento me alimentar dessa casca suja que chamamos de fome. Trêmula, rastejo e ele me rasga em fúria e me torturo de pernas pro ar, porque é assim que ele me quer. Me definhando como animal que se alimenta apenas de água e não mais da gulodice que banhava minhas costas dias atrás. Ele pede abrigo dentro de mim e me adestra. Se despeja em esperma, resto de vida, dizeres recortados, tons sem Dó e uma vida de amor e cólera. Me rasga ate no fundo nesse chão que tantas noites fomos papeis rabiscados, prosa solta e pontas de cigarro, sangrando e gemendo e que casualmente nos afundávamos na mentira gentil de um amor inventado. Santa e pecaminosa porque sofro quando amo e sofro mais ainda mais na solidão. Deixa dormente o meu corpo de juras imorais. A vontade dele é mais justa e minha paixão é piada, mas, me alivia servir-me de alimento. Saio dele ferida aberta. Bêbados como moscas em açúcar, melados de nossa cínica e acovardada doçura. Contaminados de uma falsa pureza, como personagens de literatura fajuta. Depois, nos jogamos completamente nus, sem nenhuma palavra.