domingo, 5 de dezembro de 2010


E vou embora já sem chorar. Os dias chorando por você serviram ao menos para me secar por dentro.
Preciso me aliviar. Mas dou até risada porque acabaram os caminhos. O mundo não suporta mais esse meu não amor por você. Meus amigos espalmam a mão na minha cara e já vão logo adiantando que se eu pronunciar seu nome, eles vão embora sem nem olhar para trás. Remédios só me deixam com um bocejo químico e a boca do estômago triste, mas não tiram você do meu coração. E escrever, que sempre foi a única coisa que adiantava para os dias passarem menos absurdos, já se tornou algo ridículo. Escrever sobre você de novo? De novo? Tenho até vergonha.
Nem eu suporto mais gostar de você. E olha que nem gosto.
É como se o mundo inteiro, os ventos, as ondas do mar, os terremotos, as criancinhas peladinhas brincando de construir castelinhos na areia, os carros correndo nas estradas, os cachorrinhos meditando nas gramas de todos os parques do mundo, a chuva, os cartazes de filmes, o passarinho que canta todo dia de manhã na minha janela, a torta de chocolate na geladeira, a minha vizinha louca que briga com o gato na falta de um marido, um cara qualquer com quem eu dormi (e ele parece qualquer quando não é você).
É como se o mundo inteiro me dissesse: “hei Hai, ninguém agüenta mais esse assunto! Chega!”
E no meio da noite, quando eu decido que estou ótima, afinal de contas tenho uma vida incrível e nem amava mesmo você, eu me lembro de umas coisas de mil anos e começo a amar você de um jeito que, infelizmente, não se parece em nada com pouco amor e não se parece em nada com algo prestes a acabar.
Lembro das horas que passávamos no msn só conversando besteiras, do seu cheiro toda vez que eu te abraçava. Lembro do abraço que servia pra matar as saudades quando paramos de nos ver diariamente, e das vezes que você me esquecia por estar conversando com um amigo, e de como toda a raiva que eu sentia por ficar te esperando sumia completamente assim que você aparecia com aquela cara de quem não fez nada.
E me lembro da primeira vez que eu te vi e me encantei de uma forma que nunca havia acontecido. Lembro do quanto eu achava bonitinhas as suas inseguranças e inexperiências, e o quanto essas inexperiências tornavam as coisas mais divertidas, seja nos pequenos incidentes ou quando nós quase destruíamos as coisas. Lembro das nossas conversas, apesar de eu nunca falar muito, nas quais eu me sentia tão sincera e tão livre, pelo fato de você dividir suas coisas comigo.
E então, no meio da noite, enquanto eu penso tudo isso, eu pergunto ao mundo todo que não agüenta mais esse assunto. Ao mar, às criancinhas peladas, aos cartazes de filmes, ao passarinho, à vizinha, aos cachorrinhos em meditação, à torta, aos carros, à qualquer um... eu pergunto: por que é que vocês todos estão tão cinza? Por que é que vocês não me ajudam? Por que é que todos vocês também ficam tão tristes quando ele vai embora? Por que é que todos vocês também morrem quando ele vai embora? Por que é que todos vocês também amam ele?