sábado, 11 de setembro de 2010


Acordo e adormeço em permanente desassossego que embora me traquilize, só me assanha. Ontem, andei por toda cidade e vi artistas se beijando. Passei então a entender a possibilidade dos encontros. E sei que algumas palavras fazem cócegas na minha língua e difícil é esquecer o passado pra se convencer que um futuro novo virá. Eu não esqueço nada. Não sei esquecer o que senti. E também, nada suavizo. A verdade é essa. Bebi um pouco de champanhe com sede e ansiedade e fez um pouco de efeito. O suficiente para eu sentir o incomodo dos sapatos e tira-los sorrateiramente por debaixo da mesa. Toca uma salsa e sigo pra pista. Que calor. Descalça e moderna dancei uma hora sob olhares de gente que insiste em me querer lento. E meu ritmo é outro. Meu querer é na fundeza dos alcances. Pedi uma vodca e acendi um cigarro. Agora, outros casais se beijam. E isso deve fazer parte do encontro. Ou não. E existe algo mais que uma vontade, algo mais que uma lembrança, algo mais que uma saudade dos dias que aos poucos o tempo se encarrega de afastar. Existe algo que eleva minha alma de loucas tempestades, que me alucina quando solitária, sou mulher. Que eu diga sem piedade todos os meus pensamentos, todas as palavras, cante minhas preces, confesse meus pecados, sussurre minhas culpas prediletas, acuse meus crimes bárbaros que me roubam as poucas horas do meu sono. Eu penso em você. E que fique claro: Não é lembrar não. È pensar e pensar e pensar a esmo. E adoro as horas que você chega. Arrumo a casa, faço comida, faço a cama e fico amiúde feito aquele poema antigo que você lia em desespero, porque metade dele era você. Você veio e nunca mais consegui acreditar em horóscopo, Fernando Pessoa, Vinicius, Raduan e beijo de língua. Eu insisti em você e absorvo tudo que nos uniu desde o primeiro segundo e digo que amo você, que eu te amo, te amo e que me estraçalho toda por você. Escrevo um bilhete com telefone e endereço e deixo em algum cômodo da sua casa. O engraçado é bancar a puta numa história em que sou uma personagem neo-romântica e ouço as mesmas músicas que ouvia quando o teu abraço era meu alcance. E ainda insisto em te querer, homem vil. Faço de você o diabo roubando a cruz e ainda assim me assumo inteira sua. E minha carne treme em euforia quando sei que divide meus lençóis com outras carnes porque sei que você me trai e volta sempre com sede. Eu aceito e me escandalizo em drama. Engulo seus erros e esqueço. O amor tem disso. Faz a gente perder a identidade quando passamos a ser alimento um do outro pra suavizar a euforia da nossa briga. Era tanto falar, tanto choro e boca comendo boca e língua lambendo sexo. Éramos uma festa pagã. E nos queríamos tanto naqueles últimos dias que quase te devorei nos meus movimentos de ir e vir. Nua, presa pela cintura e como recompensa, uma mordida no pescoço. E a casa toda se agita: a sala, o quarto, a cozinha, a estantes, os livros, a parede onde nos rasgamos e negligenciamos tudo que vinha de nós. E o sangue faz queimar nossas veias num balé ritmado de tanto que se quer. Estou meio tonta e há gente que se encontra tão sublime, tão completamente encontrada que acho até que só essa gente pode partir e permanecer. Faz vento, faz medo, faz tempo e agora, nos tornamos o amarelar de um belo retrato sorridente esquecido no passado. E rápido é o efeito da droga, assim como um beijo. Outra dose e até mais.