terça-feira, 7 de junho de 2011

Por que eu só faço com você.

Às vezes, você tem o mesmo sonho (bem, no seu caso pesadelo, dos grandes) que eu: me ver conhecendo outra garota, transar com ela e voltar pra casa balançando chaves depois de uma espécie de feriado de nós. Uma fantasia erótica, de repente ligada à uma pulsão de morte freudiana, uma besteira que protagonizamos vez que outra, para estupidamente nos sentirmos menos mortos e sonolentos. Como se variar o cheiro do lençol fosse um direito depois de algum tempo de serviço, um benefício pós-tolerância. Eu penso nessas coisas. E sei que você também.

Às vezes, agimos como se corpo e o espírito fossem dois irmãos gêmeos idênticos, o espelho um do outro, sem notar o quanto é patético vesti-los com roupas iguais e alimentá-los supondo o mesmo paladar. Como se um dos dois, talvez o que nasceu poucos minutos mais tarde, não tivesse vindo com uma misteriosa intolerância à lactose ou algo assim. Fazer amor com uma garota cuja calcinha eu nunca vi e, aliás, nem imaginava que o mundo fashion já andava aceitando aquilo como calcinha pode ser bem bacana, não é? Mas eu penso, quanto de alegria e paz de espírito meu corpo suporta? Muito, tudo. E quanto de sexo até meu corpo enjoar outra vez? Fogo, chama.

Isso sem contabilizar a paciência de fazer tudo aquilo rolar. O lance de ficar enxugando as axilas todos aqueles minutos antes de ligar e marcar alguma coisa. O vácuo durante as conversas, porque você viu "Melinda e Melinda" e ela não, porém ela viu "Embrigado de Amor" e você não. A decepção porque ela diz odiar Jerry Seinfield ao mesmo tempo em toca seu braço, ou seja, agora ela já tocou seu braço, você está prestes a foder alguém que odeia as melhores piadas do universo. Fora os primeiros beijos, tortos ou pro mesmo lado, dando sinais de que não apenas moralmente a coisa não deveria estar acontecendo, mas também por uma questão química.

Depois de um tempo você descobre que as escolhas mais acertadas têm as renúncias mais confortáveis - e eu escolhi você, sabe? Honestamente, entre fazer sexo sem amor ou sexo com amor, eu prefiro que meus triglicerídeos estejam em dia. Em certa idade, talvez quando sua testosterona começa a se estabilizar ao nível do mar, não visitar camas das solteiras da cidade não é tão dramático. É só como não ter grana pra ir no show do Paul McCartney, nada que vá mudar sua vida ou desvalorizar todas as coisas que você anda fazendo. Eu me preocupo com essas coisas, eu penso nessas coisas, eu realmente acho isso, embora a maioria não. E se você também não faz parte da maioria, tenho uma boa notícia: você não está sozinha.

Para os outros parece tão fácil. Já eu, me canso só de pensar em não ter você, ou estar com alguém diferente. Sim, de um jeito estranho e animalesco, como um macaco se comunicando através de gestos selvagens, mas que cansou de pular de galho em galho com medo de não haver tantos galhos assim, só estou aqui tentando dizer que te amo. Não apenas por preguiça ou porque é romântico dizer esse tipo de coisa, mas porque é a mais bruta verdade. Ah, e também que nessas fantasias, tais garotas jamais usam calcinhas de algodão esgarçadas de lavar trezentas vezes. E, sinceramente, não sei se conseguiria viver sem uma dessas no registro do meu chuveiro.