quinta-feira, 26 de maio de 2011

o tipo certo de cara errado...

Cravos no nariz, achei que estava ressecado porque creme é coisa de metrossexual e ele já havia me avisado que não era desses. Mas eram cravos no nariz, e ele parecia orgulhoso disso.
Você é fresca assim sempre ? A pergunta interrompeu minha frescura e um pouco de nojo e eu respondi, orgulhosa dos cravos dele: claro que não.
Nosso primeiro beijo foi na casa dele, ele tinha feito a caipirinha mais gostosa do mundo e me mostrado a incrível bagunça do seu quarto. Isso tudo merecia ser selado.
Na foto ele parecia mais homem do que ao vivo. Mas ao vivo ele me pareceu ainda mais homem do que na foto. Sei lá, eu também não entendi nada.
Do nada eu tive vontade de perguntar como ia ser nossa rotina agora, mas fiquei com medo de ele me achar uma dessas loucas carentes em busca do homem da vida. Fiquei com medo de ele ver a verdade. Não perguntei, mas olhei para ele e ele me disse: e agora como vai ser a gente se bater na faculdade?
Ele é daquelas caras sujos que falam gostosa no seu ouvido, não cheiram a perfume e respiram pesado no seu ouvido para você pensar que está transando.
Ele é bem o tipo que eu gosto.

Meu filho vai se chamar João o dele Pedro. Eu sempre fico bêbada, eu nunca vi ele bêbado.
Eu tive vontade de dormir no peito dele, em cima da camisa ridícula dele. Ele disse que meu nariz era lindo, eu sempre achei isso mas nunca tinha ouvido.
Ele me perguntou se eu sofria, fizemos cara de dor e mudamos de assunto. Concordamos que o vício pela paixão era estúpido e que conviver solitariamente com nosso umbigo era desumano.
O carinho dele partia do meu antebraço para as mãos, como se escorresse do meu coração e não mais o enchesse. Era a hora do adeus e de contar, por consideração à noite, que meu cabelo não era liso.
A claridade trouxe o cansaço de estar em mais um roteiro de cinema independente e ele me pediu mais uma vez que guardasse nosso segredo. Ele saiu do carro envolto numa atmosfera de cervejas e fumaças já digeridas e outros tantos desejos que não iríamos mais digerir.
Eu fui embora, tendo certeza mais uma vez de que nunca sou eu que vai embora.

Tati Bernardi (adaptado)