quinta-feira, 25 de novembro de 2010


"- Ah, Grandão, sabes quem eu vi ontem à noite, naquele restaurante novo no Leblon?
- Não, Bonitinha, não sei e nem quero saber.
- Que grosseiro você foi agora. Tchau, Grandão. Boa noite.
- Desculpe-me, mas não quero saber de seus esbarrões com homens apaixonados e saudosos pela Zona Sul carioca. Não sou seu amiguinho gay, Bonitinha. Podes me poupar de certos acontecimentos totalmente irrelevantes para mim? Conte para a Paulinha, Gustavo, Alice, Bruna, Erica, para a sua analista... Não para mim, porra.
(Silêncio prolongado)
- Eu não pensei que você se importasse com esse tipo de coisa. Vive me dizendo que não nos... Quais palavras você usa há mais de uma década? Ah, lembrei: não nos bancamos.
- Eu me importo sim. É possível me poupar? É uma pequena gentileza ao meu fatigado coração, sei que consegues.
- Fatigado coração? Onde leste isso? Definitivamente, não é seu. Ok.
-
Ok. Ah, os ok´s de Haioka... Leia-se: foda-se.
(Ambos riem)
- Sua leitura é sempre tão exata...
- Eu te conheço desde que você lia horóscopo, garota.
- Eu nunca li horóscopo.
- Tenho um livro sobre seu signo, sublinhado. Você me presenteou quando estavas na faculdade. Não recorda-se?
- Não. E se eu não lembro, eu não fiz.
- Muito conveniente.
Vou esquecer-me de todas as vezes que eu fugi de ti, de todas as formas possíveis. Assim, logo não aconteceu, certo?
- Vou desligar, tá? Quero preservar meu afeto por você. Boa noite, Grandão. Beijo.
- Dorme bem, Bonitnha. Beijo. Sabes o quanto és especial para mim?
- Não, não sei. Amanhã você me conta".

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)