quinta-feira, 31 de março de 2011
Por favor, não economize o AMOR.
Intensa.
terça-feira, 29 de março de 2011
Desde o primeiro encontro, eu te quis pra mim, só pra mim.
Coragem, às vezes, é desapego.
segunda-feira, 28 de março de 2011
Pra você... minha raiva, rancor, e meu amor também.
Por causa da mudez das emoções que sentiam, eles não sabiam que destino davam a si.
Renunciar não quer dizer que não ame.
Não parece, mas eu ainda vivo aquele passado.
Por ti e para ti escrevo.
Minha raiva e rancor.
domingo, 27 de março de 2011
romântica pra cacete
Por que a droga da chuva me lembra todas as vezes que eu voltei para casa sonhando e no dia seguinte me deparei com a frieza do dia seguinte?
Aonde está você pelo amor de Deus! Aonde está você? Não vê que estou cansada de pertencer a todos e não ser de ninguém? Não vê que minha devolução me enfraquece cada vez mais em me entregar?
Não vê que na loucura de te encontrar não meço as entregas? E elas nunca são entregas porque eles nunca são você.
Porque comecei este texto tão bem e mais uma vez esqueci de ser a mulher moderna que eu tanto gostaria de ser para lembrar a mulher romântica que espera por você a cada esquina, a cada decote, a cada riso nervoso que solto em forma de grito à espera do seu socorro.
Eu vou continuar vendo você em todos esses crápulas que fingem ser você para vulgarizar o meu amor. Eu vou continuar cheirando você em todos esses suores fugazes que me querem num conto pequeno. Eu vou continuar lendo a nossa história em contos pequenos.
Cadê você que some a cada som que não me procura? Cadê você que parece ser e nunca é porque desaparece no cansaço das relações?
O meu amor acaba por todos, a minha espera cansa por todos, a minha raiva ameniza por todos. Mas a minha fé por você cresce a cada dia.
Eu posso transar no primeiro encontro, eu posso transar por transar. Eu posso trepar. Eu posso te encontrar num flat na hora do almoço para uma rapidinha. Eu posso reclinar o banco do meu carro e mandar ver. Eu posso deixar você não me beijar na boca. Eu posso aceitar que você nunca me leve de mãos dadas a um cinema. Eu posso ser uma noite e nada demais. Eu posso ser um banheiro e nada mais. Eu posso ser nada mais.
Mas eu nunca, em nenhum momento, deixo de romantizar a vida, cada segundo, por mais podre que seja, dela. Eu nunca deixo de procurar você. Eu nunca deixo de acreditar que você exista, e eu nunca deixo de acreditar que você faz o mesmo a minha espera.
- Tatiane Bernardi
Carta para um homem que morreu um pouco...
E a inspiração para escrever Meu Deus! Foi para onde?
Foi para o mesmo lugar da minha outra paixão esquecida. O homem para o qual dedico este texto. Aquele que tirei do pedestal e nunca mais coloquei em lugar nenhum. Foi para depois. Depois que eu resolver o que é verdade, o que é de verdade.
Eu sei bem. E sei que você mente também. E sei que a gente se atura porque perder pessoas é muito triste. Por mais que você não venha me encoxar no meio da noite, não me agarre no corredor, não jogue a porra do controle remoto para longe, não fale no meu ouvido o quanto você está precisando me comer naquele momento. Por mais que você não seja esse homem, você respira quietinho ao meu lado enquanto dorme, lindo. E quando você dorme quietinho assim, eu sei que, apesar de eu não abalar sua vida em nada, você precisa de mim. E você já abalou tanto a minha vida. Que pena, agora você morreu. Mas eu continuo vendo você respirar, quietinho, ao meu lado.
A verdade é que eu ainda acredito em reencarnação. E eu te olhei tantas vezes implorando. Não morre, por favor. Seja ele, seja o homem que perde um segundo de ar quando me vê. Mas você nunca mais me olhou quase chorando, você nunca mais se emocionou, nem a mim.
Você nunca mais pegou na minha mão e me fez sentir segura. Nunca mais falou a coisa mais errada do mundo e fez o mundo valer a pena.
Eu treinei viver sem você, eu treinei porque você sempre achou um absurdo o tanto que eu precisava de você para estar feliz.
De tanto treinar acostumei.
E cadê a inspiração? Foi embora junto com a minha pureza, a minha crença, a minha fidelidade.
Eu sou comum, igualzinho a você, a vocês. Eu cometo erros mesquinhos e sou capaz de grandes momentos.
Para cada grande momento, milhares de erros mesquinhos no ar, no lençol, no ralo de um banho cheiroso.
Para cada fundo do poço, milhares de motivos de perdão boiando, bóias de coração para eu me agarrar.
E eu nunca me agarro em mim, sempre espero alguém chegar.
Eu não queria ter ido tão longe. Nem seguido um que não posso, nem aturando outro que nunca pude.
Eu só queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nó.
O homem que vai ser o pai dos meus filhos e não dos meus medos.
O homem com o maior colo do mundo, para dar tempo de eu ser mulher, transar para sempre. Para dar tempo de seu ser criança, chorar para sempre.
Para dar tempo de eu ser para sempre.
Cansei de morrer na vida das pessoas. Por isso matei você.
Antes que eu morresse de amor. Matei você.
Eu sei que sou covarde. Surpreso? Eu não.
Desculpa, eu tinha prometido nunca mais escrever tão subjetivamente.
Te amo, viu?
Você renasceu de novo.
Eu sei que sou louca.
Louca e covarde.
sexta-feira, 25 de março de 2011
E eu te encontrei de novo...
Como testemunha da sua força, da coragem e das tentativas de encontrar você naquele coração, busque o sorriso e a força do olhar. Segure firme nas mãos daquele que permitiu você entrar sem tanta coisa em troca. Sinta dentro do seu orgulho que há mais vontade de construir do que desconstruir. Não queira suposições para o seu futuro, aceite verdades sendo elas boas ou ruins.
Suponho que a pessoa certa não é a que tem os mesmos gostos que o seu, mas as que são completamente diferentes. Com isto, a gente aprende e constrói uma das coisas mais desencontradas de muitas relações: o respeito. Se você aprender a respeitar o seu amor, as outras coisas virão por compreensão.
O amor afobado, descontrolado, externado por mil frases e fotos a quem não interessa, é a primeira impressão de desrespeito com a sua relação. Só importa a você e ao outro saber o que se passa. O sentimento é gradual, sinta o tempo passar e ele aumentar de forma madura, equilibrada, sem tanta ansiedade para todos os pertencimentos.
O encontro com o amor é uma dúvida constante, certezas demais em tão pouco tempo levará você a temer muito mais rápido. Tenha paciência, suas respostas virão a cada descoberta. Descobrir tudo ao mesmo tempo não causa tanta emoção, faz bem cumprir etapas.
Não deixe de acreditar pela decepção, a solidão atrai apenas os desencorajados. Tenha força, fé e muito amor consigo. Lapide seu coração, cicatrize feridas, retome seus planos e refaça seus destinatários. Não seja de um ou de outro, seja de você.
Sinta um festival de emoções atentarem a cada dia de forma diferente. Admita, não seja imprudente com o efeito que a ansiedade causa por medo, por carência, por vontades. Queira seu amor da forma humana, aceite defeitos e não estipule regras, cumpra apenas limites.
Sem sentido fica muito mais fácil de sentir. Não são datas que completam as nossas vidas, mas as descobertas, admire a sua força de vontade em recomeçar quantas vezes for necessário. O encontro com o amor admite resistência devido às falhas, as mutações, a dúvida. Queira abraçar esse amor antes tarde do que cedo. Mas não desistamos, nós precisamos de pessoas mais crentes, menos carentes, e de uma poesia interior bastante equilibrada que reponha sentimentos e edifiquem relacionamentos.
Queira ser diferente para as suas concepções, traga para o seu olhar significados e construa diariamente em você uma corrente do bem, sinta-se patético e ensolarado ao estar feliz!
Lembracinhas de um denguinho engavetado.
Hoje, quando já era quase meio dia, pensei nas tolices, nas incertezas que também são vãs, nas orações suprimidas e nas ligações desfeitas.
Enquanto você partia, eu apenas chegava. E o que nos levou embora foi a falta de coragem... Nem ela nos restou.
Dispenso o gerúndio, e não rebusco a fala para que seja clara a interpretação dessas palavras. (Re) lembro a intransigência daquele pensamento: "Você lembrará que sorriu comigo... ah, você lembrará". E eu lembrei.
Lembrei do sorriso revertido, das palavras engraçadas e do quase amor, do que não temia ser meu, e das migalhas que converti em felicidade. Contentava-me com o pouco, e tu cientes das contrapartidas, abatias sorrisos com lágrimas... Vai ver eu tava na esquina, e nunca no teu coração.
Quando me fizeram entender que metade da nossa vida ficará sem explicação, já era quase dia, e as minhas poucas certezas grudaram uma na outra fortificando o sentimento obtuso e perene daquilo que não há mais em mim...
Eu me preparei pra "o novo" e "o novo" veio.
Você, meu bebê, de uma hora para outra tomou o meu espírito de uma esperança ingrata. Não estava nos meus planos te encontrar nesse tempo, no teu beijo disfarçado de cura, nos teus olhos marejados de desejo.
Trouxe a saudade aliviada, a maturidade dos meus atos, colocou vida novamente nos planos. Renovou as fugas e as rotas.
Naquele lugar fatigado de decepções corriqueiras e sem graças, você alivia a dor da espera e me traz a claridade paciente de conviver com o aperto das partidas e a felicidade das chegadas.
É por isto que todos os dias eu te espero chegar de novo, no meu abraço que já é teu.
Da despedida bem pensada...
Foi quando eu descobri que ele queria o suor que se faz do calor dos corpos unidos, e eu queria isso e mais um carinho depois.
Ele queria o tesão, sexo, e sabor... eu queria isso somados ao amor, ao cuidado e zelo.
Ele queria viver aventuras... eu queria isso somados ao conforto do nosso lugar.
Enquanto ele queria um passeio... eu queria um passeio, de mãos dadas.
Ele gostava da mordida... eu amava a mordida seguida do beijo.
Ele queria a paixão... eu queria a paixão e o amor.
Ele queria o momento... eu queria o momento com planos para um futuro.
Foi quando dei por mim que eu estava querendo mais do que ele poderia me oferecer. Ou melhor, acredito que amor todos tenham para ofertar sem nada receber em troca, mas amor, assim de verdade a gente sempre escolhe dar para a pessoa certa. Talvez eu tenha errado quando pensei em entregá-lo nas mãos dele. Mãos essas que não seriam tão cuidadosas assim.
Então parti. Parti para que você tivesse oportunidade de doar-se para um outro alguém. Não me decepcione! Entregue- se por completo.
Parti... e ficaram pelos corredores alguns sentimentos que relutaram em não sair comigo.
Deixo com você a saudades. E levo comigo a esperança, que me ajudará em uma nova etapa, em uma nova entrega.
Adeus amor...
Ele é como poucos rapazes ainda são hoje em dia. E eu gosto (tanto) disso;
Ele me me faz pensar em e me transporta para o futuro, por uma qualquer razão misteriosa que ainda não consegui descodificar;
Quando ele me toca, por mais ao de leve que seja, o meu raciocínio dispersa-se instantaneamente;
Ele (quase) me faz voltar a acreditar (ou, pelo menos, a querer voltar a acreditar, muito, muito);
Ele me relembrou como pode ser bom sentir-me assim, depois de ter estado dois anos adormecida ou mergulhada em angústia.
E isto... isto assusta. Ele, ao mesmo tempo que só me faz querer estar bem junto a ele, assusta-me. E nesta batalha muito pouco lógica ou racional, nem sempre ganha a parte de mim que eu gostaria. "
A ferida cicatrizou.
Tarde demais...
Ela foi embora
Mesmo ofertando tudo e não pedindo nada: Fica!
Tarde demais...
Ela foi embora
Mas o tempo sabe bem o que fazer
Deixar a chuva lavar pra escorrer daquela pele
todo o lodo e febre
Mas o tempo sabe bem como curar
A ferida que insiste em sangrar
Mas vai fechar
E na madrugada fria ela deixa de ser
cega e enxerga
Tarde demais...
Ele já não a espera
E olhando-se no espelho só resta então o lamento
Meu Deus foi tarde demais
Ele partiu com o tempo
Mas o tempo soube bem o que fazer
Deixou a chuva lavar pra escorrer daquela pele
Todo o lodo e febre
Pois o tempo soube bem como curar
A ferida que nunca mais vai sangrar
Fechada está
E nesse dia então
O mundo pôde perceber
que foi tarde demais pra ela se arrepender.
Que nem ouvi tocar o alarme de perigo
E você foi me conquistando devagar
Quando notei já não tinha como recuar
E foi assim que nos juntamos, distraídos
Que no começo tudo é muito divertido
Mas sempre tinha um amigo pra falar
Que o nosso amor nunca foi feito pra durar
Ninguém pode negar que o nosso amor é tudo
Tudo que pode acontecer com dois bicudos
Não são tão poucas as arestas pra aparar
Mas é que o meu desejo não deseja se calar
Será sempre será
O nosso amor não morrerá
Depois que eu perdi o meu medo
Não vou mais te deixar.
Quero que você suma do meu contato, igual a um vírus ao qual já estou imune.
E você, numas horas doce, noutras me tratando como lixo. Não sou lixo. Tampouco quero a doçura dos culpados, artificial como aspartame.
Adeus, graças a Deus.
CVN
P.S.: esta não é mais uma dessas cartas-desabafo.
P.S. do P.S.: esta é uma carta-desabafo-quase-música-de-Adriana-Calcanhoto
- Fernanda Young -
' E eu te encontrei de novo...'
A gente não se falava desde o ano novo, quando tudo deu errado pro nosso lado. De tempos em tempos sumimos, falamos umas coisas horríveis de quem se conhece demais. Ele topou desde que fosse daqui pra frente, preguiça de conversar da briga e tal. E fomos.
Cheguei antes, comprei. Ele chegou depois, comprou água.
Porque eu comprei os ingressos, ele comprou também uns doces e disse que pagaria o estacionamento. Porque ele pagaria o estacionamento, eu disse que daria a carona da volta. E com meu coração tão calmo eu voltei a sentir o soninho de sofá de casa com manta que sinto ao lado dele. A gente não se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe.
Já tivemos nossos tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade.
Ele também ri quando eu digo “ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre.
Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase dois anos.
Somos pra sempre.
Ele conta do filme que tá fazendo, eu do livro. Os mesmos há mil anos. Contar é sem pressa de acabar. Se ele me corta é como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se meu silêncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa. São quinze anos. É isso. Ele me viu de cabelo amarelo enrolado. Eu lembro dele gordinho e mais baixo. Ele sempre comprou meus testes de gravidez, mesmo a suspeita nunca sendo nossa. Eu já fui bem bonita numa festa só porque ele queria me fazer de namorada peituda pra provocar a ex mulher. Minha maior tristeza é que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo não consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo é meu único amor. O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo. E ele vai comigo na pizzaria e todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados "alguém é bobo como eu, alguém tem esse humor" e mais uma vez rimos da piada que inventamos, do pai que chega pro filho e fala: sua mãe não é sua mãe, eu transei com outra".
E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.
quinta-feira, 24 de março de 2011
' ainda dói...'
“Na vida, apenas uma coisa é certa, além da morte e dos impostos. Não importa o quanto você tente, não importa se são boas suas intenções, você cometerá erros. Você irá machucar pessoas. E se machucar. E se algum dia você quiser se recuperar há apenas uma coisa que pode ser dita. Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer.”
- Grey’s Anatomy.
quinta-feira, 17 de março de 2011
Coisas que eu odeio em você.
Aline Machado
boas e bobas...
"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você.
Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos, e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, agora não, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés delas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.) E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você — seria, seriam?
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam uma nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito poder de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos mesmo meio tudo isso, não tem jeito, e tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olivia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Wim Wenders, mais Cecília Meireles que Nélson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramática, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca na minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão Cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas Contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente.
Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormir vezenquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo."
Caio Fernando Abreu - O Estado de S. Paulo, 16/3/1988
quarta-feira, 16 de março de 2011
Resista.
RESISTA mais um minuto e será mais fácil resistir aos demais.
RESISTA mais um momento, mesmo que a derrota seja um imã; mesmo que a desilusão caminhe em sua direção.
RESISTA mais um pouco, mesmo que os invejosos digam para você parar.
RESISTA mais um momento, mesmo que você não possa avistar ainda a linha de chegada; mesmo que as inseguranças brinquem de roda a sua volta.
RESISTA um pouquinho mais, mesmo que a sua vida esteja sendo pesada como a consciência dos insensatos e você se sinta indefeso como um pássaro de asas quebradas.
RESISTA porque o último instante da madrugada é sempre aquele que puxa a manhã pelo braço e essa manhã, bonita, ensolarada, sem algemas, nascerá para você em breve, desde que você resista.
RESISTA, porque eu estou sentada na arquibancada do tempo torcendo ansiosa para que você resista e ganhe de Deus o troféu que merece: a felicidade.
Sorte pra você... sempre ;*
Dentre muitas coisas que você nunca soube: seu riso era o acontecimento que eu mais gostava de presenciar.
Deve ter ouvido o meu riso desafinado, que em algumas circunstâncias era motivado apenas pelo nervosismo. O outro falando de uma coisa que não tem graça nenhuma e a gente rindo, sem poder explicar a aparente esquisitice. Deve ter ouvido a mão gelada que apertava a sua levemente para não ser desmascarada. E aquele ar meio patético que as pessoas costumam ter quando se apaixonam. A boca é o que menos fala no corpo. Imagino que deve ter ouvido algumas dessas vozes que falavam em mim sem que eu pudesse contê-las.
Mas, ainda que tenha ouvido, não ouviu tudo. Não soube que eu inventava os pretextos menos criativos para te ver. Que planejava a maioria dos encontros que eu chamava de coincidências. Que antes de ir até onde você estava, passava mais perfume que de costume. Mudava, várias vezes, a roupa, o batom, o humor. Enchia a boca com balas de hortelã. Ficava incontáveis minutos em frente do espelho, procurando o melhor ângulo, o melhor sorriso, a melhor expressão de surpresa. Ensaiava, em vão, como agiria quando te encontrasse: o cumprimento, os gestos, as palavras. Todo um roteiro meticulosamente estudado para ser traído, em poucos segundos, pela inabilidade que me dominava ao me flagrar diante de você. Aquele esforço sobre-humano para aparentar serenidade com uma escola de samba desfilando no coração.
Nunca soube que, depois de encontrá-lo, relembrava cada detalhe durante todas as horas que antecediam o próximo encontro. A rota que seus olhos percorreram, cada movimento, cada vírgula da sua fala, cada nuance de entonação. Era como se eu quisesse descobrir alguma possibilidade de correspondência. Ainda que pequena. Ainda que remota. Relembrar também era uma forma de te sentir perto de mim de novo e de poder olhar para você sem reserva, sem cautela, debruçada na janela da minha imaginação.
Mesmo que tenha suspeitado de que eu sentia algo, não descobriu tudo. Não descobriu que seu riso era a canção de que eu mais gostava. Que sussurrava seu nome repetidas vezes, e com tanta delicadeza, que ele bailava nos meus ouvidos como um poema. Um mantra. Uma música. Que eu queria conhecer o lugar onde os seus sonhos moravam para poder acordá-los, vez ou outra, quando adormecessem. Que em alguns momentos, no auge da minha ilusão, senti vontade de pedir que jogássemos as armas no chão para que nossas mãos pudessem se encontrar.
Nunca descobriu que escrevi versos que não lhe mostrei e cartas que jamais entregaria. Que muitas vezes, a pedido do meu coração, liguei apenas para ouvir sua voz dizer alô e desliguei sem uma única palavra. Que fantasiei delícias. Que cantei todas as músicas de amor que eu sabia lembrando de ti. Que lembrava ao acordar. Que adormecia lembrando. Que lembrava tanto que achava ter enlouquecido, ô troço obsessor essa tal de "paixão". E que, às vezes, lembrar doía, uma dor fina e morna crescendo no peito, como doem os sonhos que não acontecem e que a gente desconfia que não vão mais acontecer.
Eu tenho mais o que fazer do que me enganar.
Do que me enganar
Eu não gosto de cartas fechadas
Eu poderia tentar te seguir
Só pra te agradar
Mas eu não conheço essa estrada
Eu não moro na sua vida
Eu não procurei por você
Eu sei onde fica a saída
Não precisa me dizer
Eu não bato na sua porta
Eu não acredito em você
A sua palavra me corta
Eu não quero mais...
Cada vez mais me asseguro
Eu posso partir
Estrada são feitas de passos
Cada momento ao seu lado
Me faz banir
Alguma outra chance de unir os pedaços
Eu não quero mais perder
Um segundo que me resta
Eu tenho a pressa certa
Aquela que liberta
Perder minha própria companhia
Minhas pernas, minha guia
Minha voz e o meu querer
Um segundo que me resta.
É melhor buscarmos a paz e o exercício do amor ao próximo.
Também não creio que se possa confiar cegamente na ciência e seus saberes, sempre um tanto precários e expostos a mudanças. Os próprios cientistas (especialmente os melhores) tratam com ceticismo ou ao menos com reserva qualquer assertiva mais radical sobre o assunto.
Mas então, a quem ou a que atribuir esses fenômenos arrasadores, como os da serra fluminense e, pior ainda, os do Japão? Se fossem castigo para os homens orgulhosos e cheios de si, a gente até entenderia. E os inocentes que se perdem no meio da catástrofe? E as vidas de gente boa, trabalhadora e ordeira, que não causa mal a ninguém nem se julga dona de verdade nenhuma? E as crianças que se apagam no meio disso tudo?
Nunca afirmo nada a esse respeito, porque simplesmente acho que não sabemos de nada. A coisa acontece, é preciso tratar de quem sobrou, minorar as perdas e o desespero dos que não aguentam o peso da desgraça, dar abrigo e comida a quem ficou sem. Acho que os fenômenos naturais acontecem... naturalmente. Acredito que pertencem à mesma ordem que deu origem às diferentes eras da Terra, à mesma ordem que traz o sol e as chuvas, não importando sua intensidade, faz desmoronar encostas pela força da água e fez surgirem o Universo e as galáxias, tantas das quais inacessíveis para nós.
Deus tem alguma coisa a ver com isso? A resposta está além de meu fraco entendimento. Se Esse Ser sobrenatural pôde mesmo criar tudo que existe, se é Ele que decide vida e morte, saúde e doença, não serei eu (nem qualquer semelhante meu) quem vai poder explicar, entender, afirmar ou negar. E no entanto, quanta gente afirma e nega coisas a respeito de Deus. É como se tivessem convivido longamente com Ele, conhecessem seu caráter, temperamento e até a eternidade em que se instala. Uns dizem que é infinitamente bom, outros, ao contrário, que é mau e vingativo. Era assim no antigo testamento e em algumas religiões mais primitivas.
Acontecem ainda coisas a que se convenciou chamar milagres: acontecimentos inesperados, que pareceriam impossíveis a nosso entendimento. A maioria deles talvez não passe de embuste, encenação ou ilusionismo. Verdade que não encontramos explicação possível para alguns poucos desses acontecimentos. É claro que há caminhos desconhecidos para nossos olhos, forças com as quais não estamos familiarizados e que nos assustam ou deslumbram por seu alcance. E daí? O que se pode afirmar ou negar com base nelas?
A bondade, o poder ou a sede de justiça que se atribuem a Deus podem bem ser a idealização de sentimentos humanos. O melhor é trabalhar o que existe em nós, desenvolver nossa capacidade de amar, ajudar e compreender, evitar que algum poder nos suba à cabeça e tentar exercer o que nos parece ser a justiça em sua acepção mais plena, a começar pela paz – o que não é nada fácil, mas é possível. E se Deus estiver mesmo nos assistindo, talvez fique contente. [E de fato está nos assistindo]"
Deixa o meu silêncio conversar com o teu...Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.
Hoje eu não quero falar sobre o quanto o mundo está doente. Sobre como está difícil a gente viver. Sobre as milhares de coisas que causam câncer. Sobre as previsões de catástrofes que vão dizimar a humanidade. Sobre o quanto o ser humano pode ser também perverso, corrupto, tirano e outras feiúras. Sobre os detalhes das ações violentas noticiadas nos jornais. Não quero o blábláblá encharcado de negatividade que grande parte das vezes não faz outra coisa além de nos encher de mais medo. Não quero falar sobre a hipocrisia que prevalece, sob vários disfarces, em tantos lugares. Hoje, não. Hoje, não dá. Não me interessam o diz-que-me-diz-que, os julgamentos, a investigação psicológica da vida alheia, os achismos sobre as motivações que fazem as pessoas agirem assim ou assado, o dedo na ferida.
Hoje eu não quero aquelas conversas contraídas pelo receio de não se ter assunto. A aflição de não se saber o que fazer se ele, de repente, acabar. O esforço de se falar qualquer coisa para que a nossa quietude não seja interpretada como indiferença. Hoje eu não quero aquelas conversas que muitas vezes acontecem somente para preenchermos o tempo. Para tentarmos calar a boca do silêncio. Para fugirmos da ameaça de entrar em contato com um monte de coisas que o nosso coração tem pra dizer. Além do necessário, hoje não quero falar só por falar nem ouvir só por ouvir. Que a fala e a escuta possam ser um encontro. Um passeio que se faz junto. Um tempo em que uma vida se mostra para a outra, com total relaxamento, sem se preocupar se aquilo que é mostrado agrada ou não. Se aumenta ou diminui os índices de audiência.
Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costumam fazer você sintonizar a freqüência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca. Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer.
Hoje, me fala de você. Dos momentos em que a vida lhe doeu tanto que você achou que não iria agüentar. Fala das músicas que compõem a sua trilha sonora. Dos poemas que você poderia ter escrito, de tanto que traduzem a sua alma. Senta perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes, faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera. A gente já brincou tanto de faz-de-conta quando era criança, onde foi que a gente esqueceu como se chega a esse lugar de inocência? Fala da lua que você admirou outra noite dessas, no céu. Da borboleta que lhe chamou à atenção por tanta beleza, abraçada a alguma flor, como se existisse apenas aquele abraço. Diz se quando você acorda ainda ouve passarinhos, mesmo que não possa identificar de onde vem o canto. Diz se a sua mãe cantava para fazer você dormir.
Senta perto e me conta o que você sentiu quando viu o mar pela primeira vez e o que sente quando olha pra ele, tantas vezes depois. Se tinha jardim na casa da sua infância, me diz que flores riam por lá. Conta há quanto tempo não vê uma joaninha. Se tinha algum apelido na escola. Se consegue se imaginar bem velhinho. Fala da sua família, a de origem ou a que formou. Das pessoas que não têm o seu sobrenome, mas são familiares pra sua alma. Fala de quem passou pela sua vida e nem sabe o quanto foi importante. Daqueles que sabem e você nem consegue dizer o tamanho que têm de verdade. Fala daquele animal de estimação que deitava junto aos seus pés, solidário, quando você estava triste. Diz o que vai ser bacana encontrar quando, bem lá na frente, olhar para o caminho que fez no mundo, em retrospectiva.
Podemos falar abobrinhas, desde que sejam temperadas com riso, esse tempero que faz tanto bem. A gente pode rir dos tombos que você levou na rua e daqueles que levou na vida, dos quais a gente somente consegue rir muito depois, quando consegue. A gente pode rir das suas maluquices românticas. Das maiores encrencas que já arrumou. Das ciladas que armaram para você e, antes de entender que eram ciladas, chegou até a agradecer por elas. De quando descobriu como são feitos os bebês. A gente pode rir dos cárceres onde se prendeu e levou um tempo imenso pra descobrir que as chaves estavam com você o tempo todo. Das vezes em que se sentiu completamente nu diante de um Maracanã, tamanha vergonha, como se todos os olhos do mundo estivessem voltados na sua direção. Das mentiras que contou e acreditaram com facilidade. Das verdades que disse e ninguém levou a sério.
Não precisa ter pauta, seguir roteiro, deixa a conversa acontecer de improviso, uma lembrança puxando a outra pela mão, mas conta de você e deixa eu lhe contar de mim. Dessas coisas. De outras parecidas. Ouve também com os olhos. Escuta o que eu digo quando nem digo nada: a boca é o que menos fala no corpo. Não antecipe as minhas palavras. Não se impaciente com o meu tempo de dizer. Não me pergunte coisas que vão fazer a minha razão se arrumar toda para responder. Uma conversa sem vaidade, ninguém quer saber qual história é a mais feliz ou a mais desditosa.
Hoje eu quero conversar com um amigo pra falar também sobre as coisas bacanas da vida. As miudezas dela. A grandeza dela. A roda-gigante que ela é, mesmo quando a gente vive como se estivesse convencido de que ela é trem-fantasma o tempo inteiro. Um amigo pra falar de coisas sensíveis. Do quanto o ser humano pode ser também bondoso, honesto, afetuoso, divertido e outras belezas. Dos lugares onde nossos olhos já pousaram e daqueles onde pousam agora. Um amigo para conversar horas adentro, com leveza, de coisas muito simples, como a gente já fez mais amiúde e parece ter desaprendido como faz. Um amigo para se conversar com o coração.
E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.