sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Despedida.


Havia se arriscado demais. Tinha tomado mais iniciativas do que deveria. Foi ousada.
Sabia o porquê. Por causa dele. Da certeza de que já tinham estado juntos. Não sabia onde, nem quando ou como.
Alguns momentos demandam técnicas racionais, outros carecem de transgressões emocionais. E sabia o que haviam se permitido.
A simples constatação quando finalmente o sentiu, quase lhe tirou a eloquência.
A comunhão é facilmente perceptível aos atentos.
Ocorre que o tempo pode ser um grande inimigo.
Tudo o que a prendia, segurava e continha, não seria desatado em algumas horas. Não conseguiria transpor tão facilmente a frieza que há muito estava se impondo nos relacionamentos. E intimidade física não demanda o encurtamento da distância que protege o coração.
Mesmo assim foi intenso... e pôde sentir novamente a felicidade que essa vibração é capaz de proporcionar...
Depois do pedido para que não calasse, viu-se falando e rindo, a despeito de perceber por dentro a mais absoluta desordem de sentimentos. E era justamente sobre isso que queria falar: de si, dele, das angústias, do tesão, de paixão, das dores, do arrebatamento, do sofrimento, de prazer. Mas ele mantinha idêntica distância: respeitosa e estratégica. Entoavam o mesmo mantra.
Ela também já tinha passado pela experiência de deixar que um homem a visse chorar na despedida e sofreu por ter se permitido. Não foi fácil constatar que os homens se sentem responsáveis ao ver uma mulher chorar; que ficam perdidos, sem saber o que fazer, porque não querem responsabilidades; querem fugir; desapegar. Por essa razão tinha prometido a si mesma que não o faria novamente. Sabia o quanto se libertar naquele momento poderia ser determinante. Não o conhecia o suficiente, pois assim também não lhe fora permitido, então preferiu não arriscar.
No derradeiro momento controlou-se, embora tivesse certeza absoluta de que se ele permanecesse ali, por mais um minuto que fosse, não conseguiria conter as lágrimas.
Quando enfim ele se foi, o peito cogitou outras possibilidades... mas era tarde... havia perdido para sempre a chance de sentir a leveza das mãos dele enxugando-lhe as lágrimas que finalmente permitiu correrem, sem medo.