sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Repetir até que se decore, até que se esqueça, até que não machuque, até que vire tranqüilidade, paz. Decorei.


Uma gota de orvalho escorreu pela pétala que é meu rosto e acumulou nos lábios, recordando o gosto daquilo que um dia foi e que hoje deixa de ser. Respirei o ar gelado, enchendo meus pulmões de lembranças sentidas e expirei toda a saudade que carrego dentro de mim, completam-se anos. Dez vezes. Aprendi contigo isso, de repetir até que se decore, até que se esqueça, até que não machuque, até que vire tranqüilidade, paz. Decorei. Machuquei as dez vezes e quis doer um pouco mais, por precisar ter a certeza das coisas. Quando eu esqueço, me flagelo e me critico, por ser tão inadmissível te transformar em pó. Eu sei, é coisa da rotina que te acomoda no lado escuro da memória, no fundo do baú das lembranças mais remotas.

Remexo.

Te trago pra vida com um sopro, retirando a poeira de cima de ti. E te transformo em vento e viramos tempestade, antes da calmaria. Você, vento. Eu, chuva. E depois céu de sorrisos frescos, coração voltando pro lugar e música imaginável na cabeça. Escuto as cordas do teu velho violão e imagino qual música tu cantarias no momento. Sempre tinha um momento. Sempre tinha a música do momento. Daquele momento. Quase sempre cheias de teias de aranha, desbotadas pelo tempo, virando cócegas na tua voz rouca. E imagino. E volta um pouco da umidade, brilhando meus olhos de estrelas. E vira orvalho.
E escorre pela pétala que é meu rosto e chega à boca trazendo o gosto do tempo e da saudade que aumenta demais.

Respiro.

Dez vezes