sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Esse mundo me assusta, Pai.


Sabe, pai, agora eu entendo todo o teu medo de me deixar sair, ganhar asas e enfrentar, sozinha, a vida. É tudo tão traiçoeiro aqui fora, tudo tão sem alicerce, pai. Eu não tenho pra onde correr, não tem ninguém pra me oferecer umas coxinhas miúdas no meio da tarde, ninguém que me traga uma maçã lavada, cortada ao meio, nem ninguém que me conte da vida, que reclame dos problemas ou comemore quando está tudo indo bem. Ninguém me abraça, pai. Ninguém me dá bom dia e não tem cheiro de café fresco na mesa. Sinto falta até das roupas balançando no varal, secas, no fim da tarde.
Você tinha razão, pai. E como seria bom se fosse possível viver debaixo da asa, vida inteira, sem temer nada. Sem precisar enfrentar tudo sozinha, sem precisar ter medo de trovoadas, de ficar sem saber o que fazer quando falta luz — não me arrisco a brincar de sombras sozinha. Era tudo tão manso, pai, tão fácil, tão cômodo. Agora sei, teu medo não era em vão.

— Posso voltar pra casa?