sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Diante da crise de sentimentos confusos de uma mulher, é melhor silenciar.


"Às vezes não perguntar é curar. Quando a mulher que ama chega em casa abalada e desconsolada, a primeira reação é questionar: "o que aconteceu?"
Mas
não aconteceu nada que possa ser resumido, explicado, esclarecido.
Nâo ocorreu um acidente, um terremoto, uma notícia; as vítimas
são apenas sentimentos desarrumados e confusos.
E diante da falta de resposta já se pressupõe uma traição, uma ofensa...
Não percebe que ela está precisando somente de seu silêncio. É tão difícil doar silêncio...
É isso que ela pede, algo mínimo, algo discreto, algo despretensioso: o silêncio da lealdade. A fé.
A quietude da segurança.
Que não fale nada, que não julgue, que não duvide, pois ela está cansada de ser abreviada, atalhada, sentenciada, concluída.
Está farta de que falem por ela.
Está farta de lutar para se defender, para ser compreendida, de começar de novo, quem não fica?
Que a receba em seu colo e dedique horas a fio beijando-lhe os olhos, dando voltas nas quadras de seus cabelos, consolando-lhe a pele.
Que a sua curiosidade não estrague a comoção.
Não dê ouvidos para a tristeza, dê ouvidos para os barulhos da casa. Os barulhos da casa cicatrizam qualquer ferida.
Não chamar atenção para si é um modo de estar presente nessas horas.
Ao acordar, ela não perguntará nada. Devolverá a boca, agradecida. E o abraçará como se tivessem conversado a noite toda sobre os problemas.
Na verdade, conversaram sem a arrogância das palavras."


(em O Amor Esquece de Começar, p. 174-175).