sábado, 19 de fevereiro de 2011

Só nóis dois em nosso ninho, testemunhas para quê?


Nosso canto tem a cara da gente. Cara de uma menina de cabelos pretos e de um cara de barba. Tem nossos CDs espalhados, nossos livros, e almofadas no nosso sofá. Almofadas que você usa pra brincar de me sufocar quando eu fico insuportável de tanto falar. E tem também esquecida em algum canto aquela nossa foto abraçadinhos, aquela outra de você mostrando a língua, e eu te amando ainda mais. E tem todas suas roupas, em todos os cantos, suas camisetas que eu adoro cheirar quando você se ausenta, seus perfumes, tem você pra todo canto... mas é preciso sua presença pra qualquer coisa acontecer. Tem nossos lençóis bagunçados, onde a gente se encontra, onde a gente contraria a matemática e faz 1+1 continuar sendo 1. Onde matamos nossas fomes, onde o mundo lá fora perde todo o sentido, onde eu saio pra você entrar. O chuveiro... tantas boas lembranças dali, de quando chego primeiro e você está no banho e fico ali, te observando, te olhando falar coisas aleatórias, mordendo os lábios pra segurar a vontade de te explorar, de entrar na água contigo já molhada pelo teu desejo. De tantas declarações de amor que te fiz no espelho, adornadas pelo meu batom rosinha.
Tantas noites debaixo do cobertor vendo coisa nenhuma na TV, noites em que me escondo no teu peito por causa do meu medo de trovões, noites em que sinto tua mão amparando todos os meus medos. Aquelas tardes ociosas de domingo que você me contava no chão da sala, todos os seus sonhos de menino... me contava das suas decepções, dos seus medos e lá fora começava uma chuva fina, me aninhava no teu colo, te fazia meu e me descobria cada vez mais sua. O despertador que nunca funciona, as chaves que você sempre esquece, o leite que sempre vence, as contas que a gente divide... é tudo parte da vida que a gente resolveu partilhar.
E existem os dias ruins. Dias em que não tomamos café da manhã juntos, que não cozinho pra você, que não insisto pra você vir pra cama ao invés de ver o futebol, que você não corre pro banho depois que já estou lá... são dias que nem a casa gosta de testemunhar, dias que até nosso cachorro fica depressivo em algum canto do sofá. Dias que sinto ainda mais vontade de tua boca morna com hálito de café, mas me agarro no silêncio. Tudo ocasionado por ciúmes, implicâncias, coisas sem fundamento. Mas é só te olhar, olhar teu cabelo bagunçado, que meu coração tece uma prece silenciosa e pede por você. Faço sua comida preferida,
ando só de calcinha pela casa, mas pego tua atenção e quando nossos olhos se cruzam o orgulho pega a porta de saída e some.
Assim você tem me dado sua vida em conta gotas. Cada dia é um partilhar de sensações. Cada dia é uma descoberta.
Você sorri quando vê que gosto de dormir com coberta até nos dias quentes, acompanha com olhos faceiros a minha transformação da mulher que sou na rua, pra mulher que sou nos teus braços...
E quando acordo daquele cochilo gostoso no sofá e não te acho, coração acelera. Te procuro e acho um bilhete escrito: "Amor, volto já! Te amo". E o "volto já" me tranquiliza. Se for pra voltar, pode ir. Mas se for pra não voltar, só não se esqueça do básico: eu.
Hoje mandei fazer uma plaquinha pra colocar na nossa porta escito assim:
Contém amor em doses elevadas, não entre.