sábado, 15 de janeiro de 2011

' Eu tive um sonho estranho, acordei chorando, por isso eu te liguei...'

...
- Eu sei também que senti a sua falta. Do seu olhar firme, da sua risada alta, do seu jeito bruto. Caminhei por entre os dias assim triste, desvairada. Incompreendida, de alma cinzenta. Esperando você vir me salvar com alguma carta na manga, desculpa manjada, como sempre acontecia.
- Distante de você, me dei conta. Só poderia ser assim, sem você para falar, e mudar sempre os ares, os rumos, qualquer coisa que construíamos.
- Eu sou fogo, eu sei.
- Você é uma labareda toda, uma lareira que não cessa. Chama inteiramente viva. Meu medo é às vezes, me queimar. Deixar que você me consuma inteiro, sem nem restar ar pra respirar.
- Meu medo, era você nutrir esse temor, e fugir, como todos os outros, como das outras vezes. E voltar somente quando quiser, quando convir. Sabendo que eu aceitarei tudo novamente, sem mais explicações e delongas, te querendo como nunca.
- Aqui estamos nós, no ponto de onde não saímos nunca. Eu inconstante, você impulsiva. É um impasse e tanto, divisível, tortuoso. Sei que daqui uns dias você vai vir com alguma surpresa impetuosa, e eu vou me fechar, até que compreenda tudo, e volte sentindo a sua falta.
- Verdade, sim. Mas você volta, e nada muda. Não diz nunca o que sente, não se abre por completo. Era tudo o que eu precisava: as cartas na mesa, os dados rolando, e um mergulho nessa nossa confusão.
- Se você estiver preparada pro jogo começar, venha então. Te prometo deixar submergir, e até mesmo, acompanhar nessa divagação toda.
- Promete mesmo? Com direito à claridade, e tudo?
- Com luz, água, peixinhos pequenos e até mesmo, golfinhos. Sem coletes, ou bóias, que te salvo quando necessário.


(E as coisas entre nós seriam tão mais fáceis, se assim fossem. Se não houvessem sustos, quereres incontidos, sumiços repentinos, e voltas premeditadas (ou não). Se essa saudade não cortasse o peito, e tirasse o ar, ocasionalmente. Sem surpresas, já, o fechamento quase completo desse ciclo de altos e baixos, que emocionou e causou furor, desordem. Por mais que essa ausência quase grite, e desenhe todo o caos, repito em vão, para mim mesma, que: pode doer, mais vai passar. E cicatrizar, curar todos os males que coagiam o que é bom de acontecer. Porque era ele, por que era eu. Nunca fomos nós, mas como dupla, dois desencaixáveis.

É nossa palavra é essa: DESENCAXÁVEIS.

Duas contradições, somando apenas incompreensão, resultados inexatos. Se tudo fosse como nessa conversa de paz, num sonho bom e numa dimensão inexistente, o caminho era livre para qualquer impulso e inconstância, embebidos em afeto, paixão, sentimento. Amor.)